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Regularidade vs. Reconhecimento na Maçonaria

Regularidade vs. Reconhecimento na Maçonaria - Malhete Universal
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A compreensão do complexo universo das relações interinstitucionais na Maçonaria exige, preliminarmente, a clarificação de conceitos basilares que, embora interligados, possuem significados distintos e implicações específicas. Regularidade, Reconhecimento e Landmarks constituem os pilares sobre os quais se erguem as estruturas de legitimidade e interação entre as diversas Potências Maçônicas ao redor do globo.

A. Regularidade: Critérios, Raízes Históricas e Fundamentos Filosóficos

A Regularidade Maçônica é frequentemente descrita como um conceito concreto e absoluto. Ela se refere à conformidade de uma Loja ou Potência Maçônica (Grande Loja ou Grande Oriente) com um conjunto específico de princípios, regras e usos estabelecidos, considerados essenciais e constitutivos da Ordem Maçônica. Uma Potência é considerada regular se cumpre escrupulosamente esses requisitos, independentemente de ser ou não formalmente reconhecida por outras.

Historicamente, as raízes do conceito de regularidade remontam aos "Antigos Deveres" (Old Charges), compilações de regras e lendas que guiavam as corporações de pedreiros operativos medievais e foram adaptadas pela Maçonaria especulativa, notadamente nas Constituições de Anderson de 1723. A regularidade também está intrinsecamente ligada aos "Landmarks" da Fraternidade, que representam os princípios fundamentais e imutáveis da Ordem. O respeito absoluto às tradições específicas da Ordem é considerado essencial para a regularidade de uma jurisdição. A própria formação da Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE) em 1813, unindo as correntes dos "Antigos" e dos "Modernos", foi um marco na consolidação de um entendimento moderno de regularidade dentro de sua esfera de influência.

Do ponto de vista filosófico, a regularidade está associada aos pilares espirituais e morais da Maçonaria tradicional. A crença em um Ser Supremo, denominado Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.), é um requisito central. A prática rigorosa dos rituais e do simbolismo maçônico, vista como um método para o desenvolvimento moral e espiritual e para o acesso ao conhecimento iniciático, também é um componente essencial da regularidade.

Os critérios gerais para aferir a regularidade de uma Potência Maçônica, especialmente na corrente alinhada à UGLE, costumam incluir :

  1. Regularidade de Origem: A Potência deve ter sido fundada legalmente por uma Grande Loja já reconhecida como regular, ou por, no mínimo, três Lojas regularmente constituídas.

  2. Adesão aos Landmarks Fundamentais: Isso inclui a crença no G.A.D.U., a presença do Volume da Lei Sagrada (VSL) aberto no Altar durante os trabalhos, a proibição da admissão de mulheres (na Maçonaria masculina tradicional), a manutenção do sigilo maçônico, e a observância da lenda do Terceiro Grau.

  3. Soberania: A Potência deve exercer jurisdição exclusiva e soberana sobre os três graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) em seu território, sem subordinação a Corpos de Graus Filosóficos (como Supremos Conselhos) no que tange a esses graus.

  4. Proibição de Discussões Sectárias: É vedada a discussão de temas político-partidários e religiosos dentro das Lojas, a fim de preservar a harmonia.

B. Reconhecimento: Natureza, Propósito e Implicações Práticas

Diferentemente da regularidade, o Reconhecimento Maçônico não é um estado intrínseco, mas um ato formal, de natureza administrativa e diplomática, estabelecido entre Potências Maçônicas soberanas. É a manifestação externa da aceitação da regularidade e legitimidade de uma Potência por outra, segundo os critérios da Potência reconhecedora.

A natureza do reconhecimento reside no princípio da soberania de cada Grande Loja ou Grande Oriente. Cada Potência tem a prerrogativa de decidir, de forma independente, quais outras Potências irá reconhecer e com quais manterá relações fraternas formais. O reconhecimento não é um direito adquirido, mas um privilégio concedido , podendo, inclusive, ser retirado unilateralmente pela Potência que o concedeu, caso considere que os padrões acordados deixaram de ser cumpridos.

O propósito fundamental do reconhecimento mútuo é estabelecer relações fraternas oficiais entre Potências Maçônicas. Isso permite a comunicação formal, a cooperação em projetos comuns, o intercâmbio de informações (atas, decretos, boletins) e o apoio mútuo. Funciona de maneira análoga às relações diplomáticas entre nações, confirmando as credenciais maçônicas de uma Potência aos olhos de outra.

As implicações práticas do reconhecimento são significativas, especialmente para os membros individuais. A consequência mais direta é a autorização para a intervisitação. Maçons pertencentes a Lojas sob uma Potência reconhecida podem visitar e participar dos trabalhos em Lojas de outra Potência com a qual exista tratado de reconhecimento mútuo. A ausência de reconhecimento impede essa visitação formal em reuniões ritualísticas (tyled meetings). Além disso, o reconhecimento mútuo geralmente leva à troca de Grandes Representantes, que atuam como embaixadores maçônicos entre as Potências.

C. A Distinção Crucial: Regularidade vs. Reconhecimento

É fundamental não confundir Regularidade e Reconhecimento, pois os termos não são sinônimos. A regularidade refere-se ao estado interno de uma Potência, sua conformidade objetiva com os princípios e práticas fundamentais da Maçonaria. O reconhecimento, por sua vez, é uma relação externa, uma decisão subjetiva e soberana de outra Potência. Em essência, a regularidade diz respeito a ser maçônico de acordo com as regras fundadoras; o reconhecimento diz respeito a ser aceito como tal por outro corpo maçônico.

Essa distinção implica que uma Potência Maçônica pode ser perfeitamente regular – cumprindo todos os critérios históricos, filosóficos e landmarkianos – e, ainda assim, não ser reconhecida por outra Potência ou mesmo por um conjunto de Potências. A falta de reconhecimento não invalida, por si só, a regularidade de uma Potência. As razões para o não reconhecimento podem ser diversas: divergências políticas, questões administrativas, falta de similitude ritualística ou doutrinária em aspectos considerados secundários pela Potência não reconhecida, ou simplesmente a ausência de um pedido formal ou de interesse em estabelecer relações.

Idealmente, o reconhecimento só deveria ser concedido a Potências cuja regularidade seja indubitável aos olhos da Potência reconhecedora. No entanto, a história mostra que considerações políticas e estratégicas também podem influenciar essas decisões. A confusão entre os dois termos é comum, mas superá-la é vital para analisar as complexas dinâmicas do mundo maçônico. A regularidade é a condição essencial; o reconhecimento é o ato diplomático subsequente e opcional.

Essa separação conceitual funciona como um mecanismo crucial para a gestão da diversidade e do dissenso dentro da Maçonaria global. Permite que diferentes corpos maçônicos mantenham seus próprios padrões e interpretações do que consideram ser a Maçonaria autêntica (regularidade), ao mesmo tempo em que lhes confere a autonomia para decidir com quem desejam estabelecer laços formais (reconhecimento). Assim, uma Grande Loja pode considerar outra como "regular" em sua essência, mas optar por não a reconhecer por razões pragmáticas ou políticas, ou pode negar o reconhecimento declarando-a "irregular" com base em sua própria interpretação dos Landmarks ou dos princípios formais de reconhecimento, como os da UGLE. Essa dualidade atua como uma ferramenta tanto para manter fronteiras ideológicas quanto para a diplomacia inter-jurisdicional.

D. Landmarks: Definindo o Indefinível? Listas Chave (Mackey, Pound) e Princípios Essenciais

Os Landmarks (Marcos Antigos) são frequentemente invocados como a pedra angular da Regularidade Maçônica. O termo deriva das antigas marcas de fronteira (piquetes, pedras) que delimitavam propriedades e não podiam ser removidas. Na Maçonaria, representam simbolicamente os princípios, costumes e usos fundamentais, considerados tão antigos que sua origem é imemorial, e tão essenciais que sua alteração descaracterizaria a própria Ordem. São vistos como as leis não escritas e imutáveis da Fraternidade.

Apesar de sua importância teórica, um dos aspectos mais complexos e debatidos na Maçonaria é a inexistência de uma lista universalmente aceita de Landmarks. As tentativas de codificação surgiram principalmente na América do Norte em meados do século XIX, muito depois da fundação da Maçonaria especulativa. As listas propostas variam enormemente em número, indo de 3 a 54 itens, e nenhuma obteve aceitação unânime.

Duas das listas mais influentes são:

  • Albert G. Mackey (1858): Sua lista de 25 Landmarks é a mais difundida, especialmente nas Américas e no Brasil. Entre os pontos listados por Mackey estão: os modos de reconhecimento; a divisão da Maçonaria Simbólica nos três graus imutáveis (Aprendiz, Companheiro, Mestre); a essencialidade da lenda do Terceiro Grau; o governo da Fraternidade por um Grão-Mestre eleito, com prerrogativas específicas (presidir reuniões, autorizar Lojas, etc.); a necessidade de os maçons se reunirem em Lojas; a estrutura de governo da Loja (Venerável Mestre e dois Vigilantes); a necessidade de a Loja estar "a coberto" (segura contra intrusos); o direito de representação e apelo à Grande Loja; o direito de visitação; a exigência de exame para visitantes desconhecidos; a soberania jurisdicional de cada Loja/Grande Loja; a sujeição do maçom às leis da jurisdição onde reside; os requisitos para candidatos (historicamente, ser homem livre, de boa reputação, idade madura e sem defeitos físicos); a crença indispensável no G.A.D.U. e, subsidiariamente, numa vida futura; a presença obrigatória de um "Livro da Lei" (VSL) no Altar; a igualdade de todos os Mestres Maçons dentro da Loja; o dever de sigilo; a natureza da Maçonaria como ciência especulativa baseada em métodos operativos; e, finalmente, a imutabilidade dos próprios Landmarks.

  • Roscoe Pound: Apresentou listas mais concisas, frequentemente citadas com 7 ou 9 Landmarks. Sua compilação geralmente inclui: crença em Deus; crença na imortalidade da alma; o VSL como parte indispensável da Loja; a lenda do Terceiro Grau; o sigilo; o simbolismo da arte da construção; e os requisitos para os candidatos (ser homem, livre e de idade madura).

Outras figuras, como Albert Pike, sintetizaram ainda mais, focando em pontos como a reunião em Lojas, o governo tripartido da Loja, a crença no G.A.D.U., a cobertura dos trabalhos e o sigilo.

Apesar das divergências nas listas, alguns princípios emergem consistentemente como fundamentais para a definição de regularidade na corrente tradicional :

  • Crença em um Ser Supremo (G.A.D.U.).

  • Presença do Volume da Lei Sagrada (VSL) aberto durante os trabalhos maçônicos.

  • O sigilo sobre os rituais, modos de reconhecimento e assuntos internos da Loja.

  • A lenda do Terceiro Grau como parte integral do sistema.

  • A divisão da Maçonaria Simbólica em três graus.

  • A exclusividade masculina (para Potências alinhadas à UGLE).

  • A proibição de discussões político-partidárias e religiosas sectárias em Loja.

A interpretação e a aplicação desses Landmarks, no entanto, podem variar. Alguns os veem como regras rígidas, enquanto outros os consideram norteadores ou inspirações. A ausência de uma lista definitiva leva alguns estudiosos a sugerir que a essência dos Landmarks reside nos próprios rituais maçônicos, seguindo a máxima "Lex Orandi, Lex Credendi" (a lei da oração é a lei da crença).

A própria ambiguidade que cerca os Landmarks, apesar de sua centralidade teórica para a definição de Regularidade, cria um espaço inerente para flexibilidade interpretativa, mas também para desacordos significativos no mundo maçônico. Se a Regularidade depende da adesão aos Landmarks , mas não há consenso sobre quais são exatamente esses Landmarks , então diferentes corpos maçônicos podem enfatizar ou interpretar aspectos distintos, todos reivindicando fidelidade aos "Marcos Antigos". Essa falta de um padrão único e imutável, embora permita diversidade, fornece terreno fértil para disputas sobre o que constitui a verdadeira regularidade maçônica, contribuindo para cisões e dificuldades na obtenção de reconhecimento universal.

II. O Padrão UGLE: História, Princípios e Influência Global

A. A Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE): Ascendência Histórica

A UGLE foi formalmente constituída em 1813, resultado da união de duas Grandes Lojas inglesas rivais: a Grande Loja dos "Antigos" (fundada em 1751) e a Grande Loja dos "Modernos" (fundada em 1717). Sua linhagem remonta diretamente à primeira Grande Loja de Londres e Westminster de 1717, considerada o marco inicial da Maçonaria organizada moderna. Essa antiguidade e precedência histórica são fatores chave que contribuem para seu status e influência.

Embora nem sempre tenha usado essa designação, a partir de meados do século XX, a UGLE passou a ser frequentemente chamada, e a se autodenominar, a "Grande Loja Mãe do Mundo". Este título reflete a percepção de sua primazia na disseminação da Maçonaria especulativa organizada e seu papel central no estabelecimento de normas de regularidade que foram adotadas ou adaptadas por inúmeras outras Potências ao redor do globo. As Constituições originais de Anderson (1723), base para o Livro das Constituições da UGLE, ajudaram a espalhar a Maçonaria globalmente.

As práticas e, principalmente, os princípios de reconhecimento da UGLE tornaram-se um padrão de referência para uma porção significativa das Potências Maçônicas mundiais. O reconhecimento formal pela UGLE é, portanto, altamente valorizado e frequentemente buscado por Grandes Lojas que almejam legitimidade e aceitação dentro desta corrente internacional.

B. Codificando o Reconhecimento: Os "Princípios Básicos" (1929, Contexto e Emendas)

Para sistematizar e clarificar os critérios pelos quais avaliaria os pedidos de reconhecimento de outras Grandes Lojas, a UGLE adotou formalmente os "Basic Principles for Grand Lodge Recognition" (Princípios Básicos para Reconhecimento de Grandes Lojas) em 4 de setembro de 1929. Essa codificação surgiu a pedido do Grão-Mestre da época e visava fornecer um guia claro tanto para as Potências solicitantes quanto para os próprios membros da UGLE.

Estes princípios foram complementados pela declaração "Aims and Relationships of the Craft" (Objetivos e Relações da Arte), emitida conjuntamente pelas Grandes Lojas da Inglaterra, Irlanda e Escócia em 1938 e adotada pela UGLE em 1949. Esta declaração reforçou pontos cruciais como a crença no Ser Supremo, a centralidade do VSL, a lealdade ao Estado, a estrita proibição de discussões políticas e religiosas em Loja, a soberania da Grande Loja sobre os graus simbólicos e a recusa absoluta em manter relações com corpos que não aderissem a esses princípios. A UGLE e suas co-irmãs das Ilhas Britânicas expressaram forte convicção de que a adesão rígida a esta política é essencial para a sobrevivência da Maçonaria e desaprovam qualquer desvio.

É importante notar algumas evoluções e nuances na aplicação destes princípios:

  • Princípio 4 (Exclusividade Masculina): Embora o texto fundamental que proíbe relações maçônicas com corpos que admitem mulheres permaneça como critério para reconhecimento, a UGLE, em anos recentes, ajustou sua posição pública. A redação do parágrafo 4 foi formalmente alterada em 12 de setembro de 2018. Além disso, a UGLE emitiu declarações reconhecendo a regularidade histórica e prática de duas Grandes Lojas exclusivamente femininas estabelecidas na Inglaterra (a Honourable Fraternity of Ancient Freemasons - HFAF, e a Order of Women Freemasons - OWF), embora continue a não manter relações formais de reconhecimento que permitam intervisitação, precisamente para não violar o Princípio 4 em suas próprias Lojas. Isso demonstra uma distinção sutil entre reconhecer a existência regular de outros e manter relações formais.

  • Jurisdição Exclusiva e Prince Hall: O princípio da Jurisdição Exclusiva – a prática tradicional de reconhecer apenas uma Grande Loja por território geográfico (Estado ou país) – embora não esteja explicitamente listado nos 8 Princípios de 1929, era uma norma de reconhecimento aplicada pela UGLE e muitas outras Grandes Lojas. Essa norma foi significativamente flexibilizada, especialmente no contexto norte-americano, a partir de 1989, quando a Grande Loja de Connecticut iniciou o movimento de reconhecimento das Grandes Lojas Prince Hall (historicamente formadas por maçons afro-americanos). Isso abriu caminho para o conceito de "jurisdição compartilhada", onde duas Grandes Lojas regulares (a "mainstream" e a Prince Hall) podem ser reconhecidas no mesmo território, desde que estejam em relações amistosas (amity) entre si. A própria UGLE hoje reconhece Grandes Lojas Prince Hall em vários estados dos EUA e províncias do Canadá, ao lado das Grandes Lojas estaduais/provinciais tradicionais. Esta mudança não representou uma alteração formal dos Princípios de 1929, mas uma adaptação pragmática na aplicação das regras de reconhecimento, impulsionada por pressões sociais e pela necessidade de corrigir injustiças históricas.

O texto oficial dos Princípios Básicos e das Constituições da UGLE pode ser encontrado em suas publicações oficiais, incluindo o Livro das Constituições e folhetos informativos para membros.

Os "Princípios Básicos" da UGLE funcionam, na prática, não apenas como critérios técnicos para reconhecimento, mas como um poderoso instrumento definidor e mantenedor das fronteiras de uma corrente específica e influente da Maçonaria global. Ao exigirem explicitamente a crença teísta no G.A.D.U. e Sua vontade revelada , a observância estrita dos "Antigos Landmarks, costumes e usos" , a proibição de discussões políticas e religiosas , e a exclusão de corpos que admitem mulheres , a UGLE molda ativamente sua rede de reconhecimento em torno desses valores específicos. Isso a diferencia claramente de correntes maçônicas mais liberais ou adogmáticas, como as associadas ao Grande Oriente da França ou ao CLIPSAS , atuando como uma forma de controle ideológico para sua esfera de influência.

Adicionalmente, o Princípio 5, que exige jurisdição soberana e exclusiva da Grande Loja sobre os três graus simbólicos , teve importância histórica particular. Ele serviu para diferenciar o modelo de Maçonaria anglo-saxônica de sistemas prevalentes em outras regiões (influenciados por tradições francesas ou do Rito Escocês), onde Supremos Conselhos ou outros corpos de "altos graus" por vezes exerciam controle ou supervisão sobre as Lojas Simbólicas. Ao insistir na autonomia completa da Grande Loja para a Maçonaria Simbólica, a UGLE promoveu seu próprio modelo organizacional como padrão de regularidade, um ponto relevante em contextos de estabelecimento ou disputa de legitimidade maçônica, inclusive potencialmente na história brasileira.

C. A Rede UGLE: Potências em Amizade

A UGLE mantém relações fraternas formais, conhecidas como "amity" (amizade), com um número expressivo de Grandes Lojas e Grandes Orientes ao redor do mundo que aderem aos seus Princípios Básicos de Reconhecimento. Estar em amizade com a UGLE significa, na prática, fazer parte desta vasta rede internacional de Maçonaria considerada "regular" por este padrão.

A UGLE publica regularmente uma lista das Potências estrangeiras com as quais mantém reconhecimento mútuo. Esta lista é extensa e abrange jurisdições em todos os continentes:

  • Europa: Inclui as Grandes Lojas da Irlanda e Escócia, e numerosas Grandes Lojas nacionais (França - GLNF, Alemanha - VGLvD, Itália - GOI e GLRI, Espanha, Portugal - GLLP/Legal, países nórdicos, Leste Europeu, etc.).

  • América do Norte: Abrange a maioria das Grandes Lojas estaduais dos EUA e provinciais do Canadá, incluindo muitas Grandes Lojas Prince Hall em jurisdições compartilhadas.

  • América Central e Caribe: Reconhece várias Grandes Lojas nacionais (Costa Rica, Guatemala, Panamá, Cuba, etc.) e algumas Grandes Lojas estaduais do México (York Grand Lodge of Mexico, e outras específicas).

  • América do Sul: Inclui o Grande Oriente do Brasil (GOB) e diversas Grandes Lojas estaduais brasileiras filiadas à CMSB (como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc.), além de Grandes Lojas na Argentina, Chile, Peru, Colômbia (várias), Venezuela, Uruguai, Bolívia, Paraguai, Equador.

  • África: Reconhece Grandes Lojas em países como África do Sul, Nigéria, Gana, Marrocos, Costa do Marfim, entre outros.

  • Ásia e Australásia: Inclui Grandes Lojas na Índia, Japão, Filipinas, Israel, e as Grandes Lojas estaduais da Austrália e a Grande Loja da Nova Zelândia.

Figurar nesta lista é um sinal de pertencimento à corrente majoritária da Maçonaria regular internacional, facilitando a intervisitação e a cooperação dentro desta vasta rede global.

D. Consequências da Não-Reconhecimento no Quadro da UGLE

Para as Potências Maçônicas e seus membros, não ser reconhecido pela UGLE (e, por extensão, pela sua rede de Potências em amizade) acarreta consequências práticas significativas, embora seja crucial distinguir não-reconhecimento de irregularidade ou clandestinidade.

A consequência mais direta e universalmente sentida é a proibição da intervisitação formal. Membros de Lojas sob a jurisdição da UGLE (ou de uma Potência por ela reconhecida) não estão autorizados a visitar as reuniões ritualísticas (tyled meetings) de Lojas pertencentes a uma Potência não reconhecida. Da mesma forma, membros de Potências não reconhecidas pela UGLE não podem ser admitidos formalmente nas Lojas da rede UGLE. Tentar contornar essa regra pode sujeitar o maçom a sanções disciplinares por parte de sua Potência de origem. Essa restrição pode gerar um sentimento de isolamento para maçons de corpos não reconhecidos, especialmente quando viajam ou desejam interagir com a comunidade maçônica mais ampla. A retirada de reconhecimento, como ocorreu temporariamente com a GLNF na França, interrompe abruptamente essas relações e pode forçar maçons com dupla filiação a escolherem um lado.

É fundamental, contudo, diferenciar não-reconhecimento de irregularidade e clandestinidade.

  • Não-Reconhecimento: É uma decisão administrativa ou política de uma Potência soberana de não estabelecer relações formais com outra. A Potência não reconhecida pode, ainda assim, ser considerada "regular" em suas práticas internas por quem não a reconhece (como a UGLE faz com as GLs femininas inglesas).

  • Irregularidade: Implica que uma Potência, aos olhos de outra, viola um ou mais dos princípios fundamentais considerados essenciais para a prática maçônica regular (ex: não exige crença no G.A.D.U., admite mulheres, permite discussões políticas/religiosas em Loja, tem origem considerada falha). O Grande Oriente da França é frequentemente citado como exemplo de Potência considerada irregular pela UGLE e seus parceiros devido à questão do G.A.D.U. e outras divergências.

  • Clandestinidade: É a acusação mais grave, indicando que uma organização que se autodenomina maçônica não possui linhagem legítima de origem, ou seja, não descende de uma fonte maçônica historicamente válida. Uma Loja ou Grande Loja clandestina é, por definição, irregular, mas nem toda Potência considerada irregular é clandestina.

Portanto, uma Potência pode ser não reconhecida pela UGLE por razões que não a tornam necessariamente irregular ou clandestina, como a questão da Maçonaria feminina ou disputas jurisdicionais complexas.

A evolução na aplicação prática do reconhecimento pela UGLE, como visto nos casos da Jurisdição Compartilhada com Prince Hall e da posição matizada sobre as Grandes Lojas femininas, sugere uma capacidade de adaptação pragmática. Embora os Princípios de 1929 permaneçam formalmente como a base doutrinária , sua interpretação e aplicação podem evoluir para acomodar realidades sociais e históricas complexas. Isso indica um equilíbrio tênue entre a rigidez doutrinária, vista como essencial para a preservação da identidade maçônica tradicional , e a necessidade prática de responder a desafios como a segregação racial ou a existência de estruturas maçônicas paralelas e estabelecidas.

III. O Mosaico Brasileiro: GOB, CMSB e COMAB

A. Grande Oriente do Brasil (GOB): História, Estrutura e Posição Internacional

O Grande Oriente do Brasil (GOB) ostenta o título de Potência Maçônica mais antiga do país, fundado em 17 de junho de 1822. Sua trajetória se confunde com momentos importantes da história nacional, tanto no Império quanto na República. O GOB se considera detentor do reconhecimento primordial e secular da UGLE, a "Loja-Mãe da Inglaterra" , um reconhecimento formalizado em 1880, após gestões diretas junto ao então Príncipe de Gales. Apesar dessa antiguidade e do reconhecimento inicial, a relação com a UGLE foi marcada por períodos de tensão e escrutínio, devido a relatos de irregularidades e envolvimento em questões políticas e religiosas no Brasil, que contrariavam os princípios ingleses. O GOB é reconhecido internacionalmente como uma das maiores Potências Maçônicas do mundo em número de membros.

Estruturalmente, o GOB é um órgão federado, congregando 27 Grandes Orientes Estaduais. Possui uma administração central liderada pelo Grão-Mestre Geral, um poder legislativo (Soberana Assembleia Federal Legislativa e Conselho Federal), um poder judiciário (Supremo Tribunal Federal Maçônico, Superior Tribunal Eleitoral Maçônico, Superior Tribunal de Justiça Maçônico, Tribunal de Contas Maçônico) e um Ministério Público Maçônico. Conta ainda com a Secretaria de Administração do Fundo de Beneficência (SAFL). Sua estrutura detalhada e documentos normativos estão disponíveis em seu portal oficial.

No cenário internacional, o GOB mantém seu reconhecimento pela UGLE e possui uma rede própria de tratados de reconhecimento com Potências estrangeiras, listados em seu site. Historicamente, o GOB por vezes atuou como um intermediário ou mesmo um obstáculo para o reconhecimento de outras Potências brasileiras pela UGLE, exigindo seu consentimento prévio. Recentemente, contudo, o GOB tem participado ativamente de um movimento de aproximação e assinatura de tratados com as outras vertentes brasileiras, como a COMAB.

B. Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB): Origens (Cisma de 1927), Estrutura e Reconhecimento

A CMSB representa a corrente das Grandes Lojas Estaduais independentes no Brasil, cuja origem remonta à primeira grande cisão ocorrida no seio do GOB em 1927. As causas dessa ruptura foram complexas, envolvendo acusações de fraude nas eleições para o Grão-Mestrado do GOB em 1921 e 1925, a liderança controversa de Mário Behring, e um conflito fundamental sobre a relação de poder entre o GOB (responsável pelos graus simbólicos) e o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito (responsável pelos altos graus). Behring, então Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho, articulou a separação deste do GOB e incentivou a criação das primeiras Grandes Lojas Estaduais (Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo) em 1927, que lhe serviriam de base simbólica. Essas Grandes Lojas e outras que surgiram posteriormente buscaram reconhecimento internacional, inclusive da UGLE, para consolidar sua legitimidade. A CMSB foi formalmente fundada bem mais tarde, em 1965/1966, durante a XIV Mesa Redonda das Grandes Lojas, com o objetivo de confederar essas Potências estaduais independentes e representá-las nacionalmente.

A CMSB é, portanto, uma confederação que agrupa as 27 Grandes Lojas Maçônicas estaduais regulares do Brasil. É importante notar que a CMSB funciona como um órgão coordenador e de representação, mas cada Grande Loja Estadual membro mantém sua soberania e autonomia, inclusive para celebrar tratados internacionais de reconhecimento por conta própria. A estrutura da CMSB inclui uma Assembleia Geral, uma Conferência de Grão-Mestres, uma Secretaria Geral (órgão executivo com secretarias de Finanças e Relações Exteriores) e um Conselho Fiscal. Sua sede está localizada em Brasília-DF.

Quanto ao reconhecimento internacional, a CMSB representa a tradição das "Grandes Lojas" no Brasil, em contraste com a estrutura de "Grandes Orientes" do GOB e da COMAB. Várias de suas Grandes Lojas Estaduais constituintes (mas não todas) obtiveram, ao longo do tempo, o reconhecimento individual da UGLE. A lista de reconhecidas pela UGLE inclui, por exemplo, as Grandes Lojas dos Estados de São Paulo (primeira a ser reconhecida pela UGLE em 1999, após a adoção da regra do território compartilhado), Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre outras. A própria CMSB, como entidade confederativa, busca fortalecer as relações com instituições maçônicas regulares no exterior. Recentemente, a CMSB tem participado ativamente das iniciativas de união e assinatura de tratados com GOB e COMAB.

C. Confederação Maçônica do Brasil (COMAB): Origens (Cisma de 1973), Estrutura e Status de Reconhecimento

A COMAB representa a terceira grande vertente da Maçonaria brasileira, originada a partir de uma segunda cisão significativa dentro do GOB, ocorrida em 1973. Naquele ano, um grupo de Grandes Orientes Estaduais, insatisfeitos com a administração centralizada do GOB e buscando maior autonomia, declarou sua desfiliação coletiva. Em agosto de 1973, por iniciativa do Grande Oriente de Minas Gerais, foi criado o "Colégio de Presidentes da Maçonaria Brasileira", reunindo os líderes desses Grandes Orientes dissidentes. Este Colégio funcionou como uma entidade confederada informal até 1991, quando, em assembleia geral, foi aprovada a sua transformação na Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, com estatuto e regimento próprios.

Assim como a CMSB, a COMAB é uma confederação, mas agrupa Grandes Orientes Estaduais independentes, e não Grandes Lojas. Seus membros (atualmente abrangendo 25 unidades federativas, incluindo o DF) mantêm sua autonomia, independência e soberania. A COMAB atua como órgão de coordenação e representação dos interesses comuns. Reúne-se anualmente em Assembleia Geral Ordinária, possui uma administração que se renova anualmente e tem sua sede institucional em Belo Horizonte-MG.

Em relação ao status de reconhecimento, a COMAB se posiciona como parte integrante da Maçonaria Regular, afirmando praticar todas as regras da Maçonaria universal. No entanto, seus Grandes Orientes membros, em sua maioria, não possuem o reconhecimento da UGLE. Isso situa a COMAB e suas federadas, em grande parte, fora da rede de reconhecimento "mainstream" ligada à Inglaterra. Contudo, a COMAB construiu sua própria e extensa rede de reconhecimento e tratados, tanto no âmbito nacional quanto internacional. Notavelmente, existem tratados de mútuo reconhecimento entre Grandes Orientes da COMAB e Grandes Lojas da CMSB (ex: GO de Pernambuco/COMAB e GL do Pará/CMSB ) e também entre a COMAB (ou seus membros) e o próprio GOB (ou seus membros estaduais) (ex: GO de Sergipe/COMAB e GOB ). A COMAB também participa de confederações internacionais, embora as fontes sejam um pouco ambíguas sobre quais exatamente (CMI e CIMAS são mencionadas em contextos relacionados, mas a lista da Wikipedia apresenta COMAB, CMI e CIMAS como entidades distintas).

A fragmentação da Maçonaria brasileira nestas três correntes principais é um fenômeno complexo, resultante não de divergências sobre os Landmarks fundamentais da Ordem (como a crença no G.A.D.U. ou a presença do VSL, que são afirmados por todas as três vertentes ), mas sim de dinâmicas políticas internas, lutas por poder, disputas eleitorais, conflitos de personalidade e tensões estruturais entre centralização e autonomia estadual, ou entre a administração dos graus simbólicos e a dos altos graus. As cisões de 1927 e 1973 foram essencialmente eventos de natureza sócio-política e organizacional dentro do contexto brasileiro.

D. Fraternidade Fraturada: Compreendendo os Cismas Históricos (Causas e Consequências)

As duas grandes cisões que marcaram a história da Maçonaria no Brasil tiveram causas profundas e consequências duradouras, moldando o cenário atual.

  • O Cisma de 1927 (Origem da CMSB):

    • Causas: Como detalhado anteriormente, este cisma foi precipitado por uma combinação de fatores: a eleição contestada de Mário Behring em 1921 e sua controversa gestão no GOB; a subsequente eleição fraudulenta de 1925; a reação de importantes lideranças estaduais (como São Paulo); e, crucialmente, o conflito sobre a autonomia do Supremo Conselho do Rito Escocês em relação ao GOB, culminando na decisão de Behring de separar o Supremo Conselho e criar Grandes Lojas estaduais como base para ele. Foi uma luta por poder e controle administrativo e ritualístico.

    • Consequências: Rompeu o monopólio do GOB, estabelecendo um sistema paralelo de Grandes Lojas Estaduais independentes. Essa nova estrutura buscou e, em parte, obteve reconhecimento internacional, criando uma dualidade na representação da Maçonaria "regular" brasileira no exterior. Gerou décadas de rivalidade e disputas jurisdicionais.

  • O Cisma de 1973 (Origem da COMAB):

    • Causas: Diferente do cisma de 1927, que teve um forte componente ligado aos Altos Graus, a cisão de 1973 parece ter sido motivada principalmente por insatisfações administrativas e um desejo por maior autonomia por parte de diversos Grandes Orientes Estaduais federados ao GOB. Questões sobre centralização de poder, finanças e representatividade estadual dentro da estrutura do GOB levaram à declaração conjunta de desfiliação.

    • Consequências: Criou uma terceira força na Maçonaria brasileira, a COMAB, composta por Grandes Orientes Estaduais independentes. Isso fragmentou ainda mais o cenário, estabelecendo outra vertente que reivindica regularidade baseada nos Landmarks, mas que opera majoritariamente fora da esfera de reconhecimento da UGLE, construindo suas próprias redes de relacionamento nacional e internacional.

O impacto geral dessas cisões foi a criação do complexo sistema tripartite (GOB, CMSB, COMAB) que vigora até hoje. Essa estrutura levou a sobreposições de jurisdição, competição por membros e legitimidade, e um intrincado panorama de reconhecimento e não-reconhecimento, tanto interno quanto externo. A busca por reconhecimento internacional, especialmente da UGLE, tornou-se um fator estratégico importante nas dinâmicas internas dessas Potências. O GOB, com seu reconhecimento antigo, usou-o como trunfo ; as Grandes Lojas da CMSB buscaram-no para validar sua independência ; e a COMAB, mesmo sem o selo da UGLE, construiu sua legitimidade através de outras alianças e da afirmação de sua própria regularidade. Esse jogo de reconhecimento externo influenciou significativamente as relações de poder e as políticas internas da Maçonaria brasileira.

E. Relações Interpotências no Brasil: Tratados, Intervisitação e Dinâmicas Atuais

Historicamente, as relações entre GOB, CMSB e COMAB foram frequentemente marcadas por distanciamento, rivalidade e restrições à intervisitação entre seus membros. Houve períodos de "perseguição" velada ou aberta e de falta de cooperação mútua.

No entanto, a partir de aproximadamente 2018-2019, iniciou-se um movimento significativo e, segundo alguns relatos, inédito, em direção à harmonia, união e reconhecimento mútuo entre as três vertentes. Lideranças do GOB, CMSB e COMAB passaram a se reunir regularmente e a promover a assinatura de dezenas de tratados de amizade e reconhecimento mútuo, seja entre as confederações em nível nacional, seja diretamente entre suas Potências estaduais constituintes. Exemplos concretos incluem o tratado entre o GOB e o Grande Oriente de Sergipe (membro da COMAB) e entre a Grande Loja do Pará (membro da CMSB) e o Grande Oriente de Pernambuco (membro da COMAB). O objetivo declarado é promover a fraternidade e a união da Maçonaria Regular Brasileira como um todo.

A questão da intervisitação é central nesses esforços de aproximação. Os tratados de reconhecimento mútuo visam, primariamente, restabelecer ou facilitar o direito de visitação entre os membros das diferentes Potências signatárias. Contudo, a implementação prática pode enfrentar desafios. Mesmo com acordos formais em nível de liderança, políticas locais de Grandes Lojas/Orients ou mesmo de Lojas individuais, além de ressentimentos históricos, podem criar obstáculos. A situação recente envolvendo o Grande Oriente de São Paulo (GOSP), que se desfiliou do GOB e viu GOB-SP, GLESP (CMSB) e GOP (COMAB) se unirem e "fecharem as portas" para ele, ilustra como disputas específicas por reconhecimento podem levar ao isolamento e à restrição da visitação, contrariando a tendência geral de união.

As dinâmicas atuais, portanto, são complexas: por um lado, há um esforço oficial e declarado de cooperação e unidade entre as cúpulas das três vertentes, com reuniões conjuntas e planos para eventos unificados ; por outro lado, a longa história de divisão e a possibilidade de novas cisões ou disputas localizadas (como o caso GOSP) indicam que a integração plena e a intervisitação irrestrita em todos os níveis ainda podem ser um processo em construção. Atingir uma harmonia prática que permeie toda a base da Maçonaria brasileira, superando décadas de separação, representa um desafio significativo, apesar dos avanços formais.

Para o maçom individual, essas disputas por reconhecimento e as consequentes restrições à visitação têm um impacto direto, limitando sua capacidade de interagir fraternalmente com irmãos de outras Obediências e podendo gerar sentimentos de isolamento, particularmente para aqueles pertencentes a corpos recém-formados ou que se encontram do lado "errado" de uma disputa por reconhecimento.

IV. Além do Mainstream: Regularidade e Reconhecimento na Maçonaria Independente

A. Definindo Potências Maçônicas "Independentes"

O termo "Independente", no contexto maçônico, geralmente se refere a Grandes Lojas ou Grandes Orientes que não fazem parte da rede de reconhecimento mútuo liderada pela UGLE e suas Potências associadas. No cenário brasileiro, isso frequentemente inclui corpos que não estão filiados ou não são reconhecidos pelo GOB, CMSB ou COMAB, ou, no caso da COMAB, que operam fora do reconhecimento da UGLE.

As razões para a existência dessas Potências independentes são variadas e podem incluir :

  • Cisões Históricas: Resultantes de desacordos doutrinários, administrativos ou políticos com suas Potências de origem.

  • Divergências Interpretativas: Diferenças na interpretação de Landmarks, rituais ou da própria filosofia maçônica.

  • Busca por Modelos Alternativos: Desejo de implementar estruturas de governança ou práticas rituais diferentes das predominantes.

  • Rejeição de Requisitos Específicos: Não concordância com certas exigências das Potências "mainstream", como a interpretação dogmática do G.A.D.U. ou a exclusão de mulheres (no caso de corpos liberais ou mistos, embora o foco aqui seja em independentes regulares).

  • Conflitos Pessoais ou Políticos: Disputas de liderança que levam à formação de novos grupos.

É crucial ressaltar que a condição de "Independente" não implica automaticamente "Irregularidade". Muitas Potências independentes reivindicam firmemente sua regularidade maçônica, baseando-se em sua adesão aos princípios fundamentais da Ordem, mesmo que operem fora das estruturas de reconhecimento mais estabelecidas.

B. Estabelecendo Legitimidade: Regularidade Enraizada nos Landmarks (G.A.D.U., VSL, etc.)

As Potências Maçônicas Independentes que se consideram regulares fundamentam sua legitimidade precisamente na sua adesão aos Landmarks e princípios essenciais da Maçonaria, da mesma forma que as Potências da corrente principal. Elas argumentam que a regularidade deriva da fidelidade aos fundamentos da Ordem, e não da chancela de outra organização.

Para sustentar essa reivindicação, essas Potências geralmente demonstram:

  • Adesão aos Landmarks Essenciais: Exigência da crença em um Ser Supremo (G.A.D.U.), uso do Volume da Lei Sagrada (VSL) em Loja, trabalho nos três graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro, Mestre), prática de rituais maçônicos reconhecidos, e manutenção do sigilo.

  • Regularidade de Origem: Muitas vezes, podem traçar sua linhagem maçônica ("sucessão apostólica") a uma fonte regular incontestável. Argumentam que, mesmo tendo ocorrido uma separação administrativa ou política posterior, a transmissão iniciática original permanece válida, conferindo-lhes legitimidade histórica. O conceito de "regularidade de origin" torna-se, assim, uma ferramenta argumentativa importante, embora sua aceitação dependa da interpretação das regras de fundação pela parte que avalia.

  • Soberania Jurisdicional: Afirmam sua completa autonomia e soberania sobre os graus simbólicos dentro de seu território ou esfera de atuação, sem subordinação a outras Potências Maçônicas.

O Grande Oriente Independente de São Paulo (GOISP), por exemplo, afirma seguir rigorosamente os princípios e regras fundamentais para ser considerado regular, baseando sua legitimidade nesses critérios intrínsecos.

C. Redes Alternativas: Sistemas de Reconhecimento Fora da Esfera UGLE (CLIPSAS, SIMPA, etc.)

O fato de uma Potência não ser reconhecida pela UGLE não significa que ela opere em total isolamento. Existem diversas redes e associações internacionais que congregam Potências Maçônicas com diferentes filosofias ou que se situam fora do mainstream anglo-saxônico. Essas redes possuem seus próprios critérios de reconhecimento e facilitam a interação entre seus membros.

  • CLIPSAS (Centro de Ligação e Informação das Potências Maçônicas Signatárias do Apelo de Estrasburgo):

    • Fundado em 1961, com forte influência inicial do Grande Oriente de França (GOdF).

    • Representa majoritariamente a ala "liberal" ou "adogmática" da Maçonaria. Seu princípio norteador é a "absoluta liberdade de consciência", o que geralmente implica a não obrigatoriedade da crença no G.A.D.U. como dogma para admissão. Permite a discussão de temas sociais, filosóficos e, por vezes, políticos. Muitas de suas Potências membros são mistas (homens e mulheres) ou exclusivamente femininas.

    • Os critérios de reconhecimento dentro do CLIPSAS baseiam-se na adesão aos princípios do Apelo de Estrasburgo, que enfatizam o respeito mútuo entre Potências que trabalham pela liberdade de consciência, tolerância e progresso da humanidade, independentemente de suas opções dogmáticas ou de composição de gênero, desde que sejam soberanas e trabalhem segundo rituais maçônicos.

    • Congrega dezenas de Grandes Orientes e Grandes Lojas de diversas partes do mundo, com forte presença na Europa continental e na América Latina.

  • SIMPA (Solidariedade Internacional Maçônica de Potências Adogmáticas): Embora mencionada no plano de pesquisa inicial, as fontes fornecidas não trazem detalhes específicos sobre esta organização, além de situá-la no contexto da Maçonaria adogmática. Seria necessária pesquisa adicional para detalhar seus critérios e membros.

  • Outras Associações Internacionais: Existem várias outras confederações e associações que agrupam Potências com diferentes perfis :

    • CMI (Confederação Maçônica Interamericana): Reúne Potências da América Latina, muitas das quais são também reconhecidas pela UGLE e pela CGMNA (Conferência de Grão-Mestres da América do Norte), indicando um alinhamento mais próximo da regularidade tradicional.

    • CIMAS (Confederação Interamericana de Maçonaria Simbólica): Corpo independente, de orientação liberal e adogmática.

    • COMAM (Conferência Maçônica Americana): Outra organização continental de perfil liberal e adogmático.

    • CATENA (União Maçônica Internacional): Associação de Grandes Lojas mistas.

    • AACEE (Associações Adogmáticas da Europa Central e Oriental): Foco regional na Maçonaria liberal.

    • CLIMAF (Centro de Ligação Internacional da Maçonaria Feminina): Associação de Grandes Lojas exclusivamente femininas.

Essas redes demonstram que o reconhecimento maçônico opera em múltiplos níveis e segundo diferentes critérios filosóficos, refletindo a própria diversidade interna da Maçonaria. A existência dessas redes paralelas é um testemunho das fundamentais divergências filosóficas dentro da Maçonaria global, especialmente no que diz respeito à tensão entre dogmatismo (ênfase em crenças específicas como o G.A.D.U.) e adogmatismo (ênfase na liberdade de consciência), e entre tradicionalismo (manutenção estrita de usos antigos, como a exclusividade masculina) e adaptação (inclusão de mulheres, abertura a discussões sociais). A formação de confederações separadas permite que essas diferentes visões coexistam globalmente, cada uma definindo seus próprios padrões de regularidade e reconhecimento.

D. Exemplos de Potências Independentes Regulares (Brasil e Global)

Identificar exemplos específicos de Potências Maçônicas que sejam simultaneamente "Independentes" (não reconhecidas pela UGLE/mainstream), mas "Regulares" (segundo os Landmarks tradicionais) é uma tarefa delicada, pois depende da auto-definição da Potência e da avaliação externa.

  • No Brasil: A própria COMAB, como confederação, funciona como um grande exemplo de um sistema independente que reivindica regularidade baseada nos Landmarks, embora não tenha o reconhecimento da UGLE. Seus Grandes Orientes membros seriam, individualmente, exemplos de Potências regulares dentro deste sistema. Corpos como o Grande Oriente Independente de São Paulo (GOISP) ou o Grande Oriente de São Paulo (GOSP) , dependendo de suas afiliações atuais e reivindicações de adesão aos Landmarks, poderiam ser considerados exemplos de Potências operando com graus variados de independência em relação às três grandes confederações e à rede UGLE.

  • Globalmente: Potências que aderem estritamente aos Landmarks tradicionais (G.A.D.U., VSL, graus simbólicos, sigilo, exclusividade masculina), mas que por razões históricas, políticas ou administrativas não buscaram ou não obtiveram reconhecimento da UGLE, poderiam se encaixar nesta categoria. O Grande Oriente da Itália (GOI), por exemplo, embora hoje reconhecido pela UGLE , passou por períodos de não-reconhecimento no passado devido a questões internas e disputas jurisdicionais, mesmo mantendo práticas regulares. Potências filiadas a redes como a CMI que não possuem reconhecimento UGLE, mas aderem aos princípios tradicionais, também seriam exemplos. É importante distinguir estas das Potências filiadas a redes explicitamente adogmáticas como CLIPSAS (ex: Grande Oriente de França - GOdF ), que são regulares dentro de seu próprio sistema liberal, mas consideradas irregulares pela UGLE devido a divergências fundamentais sobre Landmarks como o G.A.D.U. e a admissão de mulheres/discussões políticas.

O termo "Independente" abrange, portanto, um espectro que vai desde corpos quase idênticos aos da UGLE em doutrina e prática, mas sem o selo formal de reconhecimento, até corpos liberais e adogmáticos com requisitos fundamentalmente diferentes. A análise requer diferenciação cuidadosa, focando na adesão autodeclarada e observável aos Landmarks essenciais, em contraste com o status de reconhecimento externo.

E. Argumento pela Validade: Soberania, Landmarks e Regularidade de Origem

A validade e legitimidade maçônica de uma Potência Independente regular podem ser defendidas com base em três pilares interligados: soberania, adesão aos Landmarks e regularidade de origem.

  1. Soberania: O princípio fundamental da soberania de cada Grande Loja ou Grande Oriente implica que cada Potência tem o direito inerente de se autogovernar e de determinar sua própria regularidade com base nos princípios fundadores da Maçonaria, sem necessitar da aprovação de uma autoridade externa. A Maçonaria não possui um "Vaticano" ou uma autoridade central global com poder para conceder ou retirar a regularidade intrínseca.

  2. Adesão aos Landmarks: Se uma Potência demonstra, através de suas constituições, rituais e práticas, uma adesão genuína aos Landmarks considerados essenciais pela tradição maçônica (crença no G.A.D.U., uso do VSL, trabalho nos três graus, sigilo, etc.), sua reivindicação de regularidade possui fundamento objetivo, independentemente de ser reconhecida por outras Potências que possam ter critérios adicionais ou interpretações diferentes. A regularidade é primariamente uma questão de conformidade com os princípios, não de relações diplomáticas.

  3. Regularidade de Origem: Conforme discutido, se uma Potência foi fundada por maçons ou Lojas provenientes de uma linhagem regular incontestável, ela herda essa legitimidade maçônica. Uma ruptura administrativa ou política posterior não anula necessariamente a validade da transmissão iniciática original. Este argumento da "sucessão apostólica" é crucial para Potências que surgiram de cisões, mas mantiveram as práticas regulares de sua origem.

Conclui-se, portanto, que a falta de reconhecimento por uma rede específica, como a da UGLE, não invalida automaticamente a regularidade maçônica de uma Potência. A legitimidade pode e existe dentro de sistemas maçônicos diversos e paralelos, desde que estes se mantenham fiéis aos princípios fundamentais da Ordem, conforme entendidos e praticados dentro de seus próprios contextos soberanos.

V. Síntese e Perspectivas Contemporâneas

A. Recapitulação: A Distinção Duradoura entre Regularidade e Reconhecimento

A investigação confirma a diferença fundamental entre os conceitos de Regularidade e Reconhecimento na Maçonaria. A Regularidade é um atributo intrínseco, referente à conformidade de uma Potência Maçônica com os princípios, leis e usos estabelecidos pela tradição maçônica, notadamente os Landmarks. É uma questão de identidade e prática internas. O Reconhecimento, por sua vez, é um ato extrínseco, uma decisão soberana e frequentemente política de uma Potência Maçônica de estabelecer relações formais com outra, com base em sua avaliação da regularidade e conveniência dessa relação.

Compreender essa distinção é crucial porque ela permite reconhecer a possibilidade de existência de múltiplas expressões legítimas da Maçonaria. Uma Potência pode ser regular em sua essência e prática, aderindo aos Landmarks fundamentais, mesmo que não seja reconhecida por determinadas redes internacionais, como a da UGLE. A ausência de reconhecimento não equivale necessariamente à irregularidade ou clandestinidade. Essa compreensão abre espaço para uma visão mais pluralista e menos hierárquica do mundo maçônico.

B. Debates Atuais Moldando o Reconhecimento: Territorialidade, G.A.D.U., Inclusão

O sistema de reconhecimento maçônico não é estático e continua a ser moldado por debates contemporâneos que refletem tensões internas e influências externas:

  • Territorialidade vs. Globalização: O princípio tradicional da "Jurisdição Exclusiva" (uma Potência regular por território) tem sido desafiado pela realidade de múltiplas Potências coexistindo em muitos países (como Brasil e França) e pela crescente aceitação de jurisdições compartilhadas (como no caso das Grandes Lojas Prince Hall nos EUA). A globalização e a facilidade de comunicação questionam a rigidez das fronteiras geográficas tradicionais na definição de soberania maçônica.

  • Interpretação do G.A.D.U.: A exigência da crença no Grande Arquiteto do Universo permanece um dos principais pontos de clivagem. A interpretação teísta e dogmática da UGLE e seus aliados contrasta fortemente com a abordagem simbólica e a defesa da liberdade absoluta de consciência das correntes liberais e adogmáticas. Essa divergência filosófica fundamental continua a ser uma barreira quase intransponível para o reconhecimento mútuo entre essas vertentes.

  • Inclusão e Diversidade (Gênero e Raça): A questão da admissão de mulheres é outro divisor de águas. Enquanto a Maçonaria alinhada à UGLE mantém a exclusividade masculina como critério de reconhecimento , as correntes liberais frequentemente abraçam a Maçonaria mista ou feminina. A posição da UGLE de reconhecer a regularidade das GLs femininas inglesas, mas não permitir intervisitação , evidencia a complexidade e a tensão em torno deste tema. Similarmente, a história do reconhecimento das Grandes Lojas Prince Hall demonstra como questões raciais e de exclusão histórica impactaram e continuam a influenciar as políticas de reconhecimento.

  • Discussão Política e Religiosa: A estrita proibição dessas discussões em Lojas da corrente UGLE contrasta com a abertura encontrada em muitas Potências liberais, que veem a Maçonaria também como um espaço para debater questões sociais e filosóficas relevantes para o mundo profano.

Estes debates não são meramente questões administrativas internas. Eles refletem o confronto da Maçonaria, uma instituição tradicional, com as profundas transformações sociais e culturais da modernidade, incluindo o avanço do secularismo, os movimentos por direitos civis e igualdade de gênero, e a globalização. A forma como a Maçonaria lida com essas tensões define suas diferentes correntes e molda o futuro de suas relações interinstitucionais.

C. O Impacto da Modernidade: Globalização, Internet e Interações Maçônicas

A era digital e a globalização intensificaram as interações e a visibilidade das diversas formas de Maçonaria. A internet e as mídias sociais permitem que informações sobre diferentes Obediências, rituais e filosofias circulem globalmente com facilidade sem precedentes. Isso tem múltiplos efeitos:

  • Aumento da Visibilidade: Potências menores, independentes ou liberais ganham maior visibilidade, podendo atrair membros e estabelecer contatos internacionais mais facilmente.

  • Facilitação da Comunicação: Maçons de diferentes jurisdições e correntes podem interagir online, compartilhando ideias e experiências, o que pode fomentar compreensão mútua, mas também expor e talvez amplificar divergências.

  • Desafio às Estruturas Tradicionais: A facilidade de acesso à informação e a comunicação transfronteiriça podem desafiar noções tradicionais de sigilo, soberania territorial e controle hierárquico da informação dentro das Obediências.

  • Novas Formas de Organização: A tecnologia pode facilitar a organização de grupos dissidentes ou a formação de novas alianças internacionais, potencialmente contribuindo tanto para a união quanto para a fragmentação.

A Maçonaria, como outras instituições tradicionais, está aprendendo a navegar neste novo ambiente tecnológico, buscando equilibrar a preservação de seus rituais e princípios com as oportunidades e desafios apresentados pela comunicação moderna.

D. Conclusão: Rumo a uma Visão Equilibrada da Legitimidade Maçônica e da Fraternidade Universal

A análise do sistema de reconhecimento entre Potências Maçônicas revela um panorama complexo, multifacetado e em constante evolução. A distinção fundamental entre Regularidade – a adesão aos princípios e Landmarks intrínsecos da Ordem – e Reconhecimento – o ato soberano e externo de estabelecer relações formais – é a chave para decifrar essa complexidade.

Fica evidente que a rede de reconhecimento liderada pela UGLE, embora vasta e influente, não detém o monopólio da legitimidade maçônica. Existem múltiplas redes e sistemas de reconhecimento (como os associados a CLIPSAS, CMI, etc.), cada um operando segundo seus próprios critérios filosóficos e históricos. Além disso, Potências Maçônicas Independentes podem reivindicar e demonstrar sua regularidade através da adesão aos Landmarks essenciais (G.A.D.U., VSL, graus simbólicos, sigilo) e da comprovação de sua regularidade de origem, mesmo sem o reconhecimento formal da corrente principal. Sua legitimidade existe dentro de seu próprio contexto soberano e sistema de valores.

O caso brasileiro, com a coexistência e recente aproximação entre GOB, CMSB e COMAB, ilustra vividamente como fatores históricos, políticos e administrativos internos podem levar à fragmentação e, posteriormente, a esforços de reunificação, muitas vezes com a questão do reconhecimento internacional (particularmente da UGLE) pairando como um fator estratégico. As cisões brasileiras parecem ter sido motivadas mais por disputas de poder e estrutura do que por divergências sobre os Landmarks fundamentais, o que talvez explique a viabilidade dos recentes movimentos de união.

Os debates contemporâneos sobre territorialidade, a interpretação do G.A.D.U. e a inclusão de mulheres continuam a desafiar as fronteiras tradicionais do reconhecimento, refletindo a interação da Maçonaria com um mundo em rápida transformação. A coexistência de diferentes sistemas de reconhecimento, embora gere complexidade e, por vezes, conflito, pode também ser vista como um fator de resiliência para a Maçonaria global, permitindo que diferentes expressões da Ordem floresçam em diversos contextos culturais e filosóficos.

Em última análise, embora as barreiras formais de reconhecimento possam impedir a intervisitação universal, o ideal maçônico de Fraternidade Universal conclama à tolerância e ao respeito mútuo entre maçons pertencentes a diferentes Obediências regulares. Compreender as nuances entre regularidade e reconhecimento, e reconhecer a possibilidade de legitimidade em diversas formas de prática maçônica que se mantêm fiéis aos princípios fundamentais da Ordem, é um passo essencial para cultivar essa fraternidade em um mundo maçônico inerentemente plural. A ênfase deve recair sobre a substância da prática maçônica e a adesão aos seus valores éticos e filosóficos, para além das complexidades das relações diplomáticas inter-jurisdicionais.

Fontes Consultadas

Plataformas Acadêmicas e Artigos

  • redalyc.org

    • “Protect the integrity”: Regularidade no discurso das relações maçônicas internacionais entre Brasil e Inglaterra (1880–2000)

  • dialnet.unirioja.es – Publicações acadêmicas diversas

  • teses.usp.br – Universidade de São Paulo – Teses e Dissertações

  • ufrgs.br – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

  • ppghufgd.comNOSCE TE IPSUM: Sociabilidade Maçônica na Revista Consciência – UFGD

Enciclopédias e Wikis

Sites e Blogs Maçônicos

Publicações e PDFs

  • issuu.com

    • Book of Constitutions – Craft Rules – UGLE

    • Information for the Guidance of Members of the Craft – UGLE

    • Confusion in the Temple

  • pt.scribd.com

    • Landmarks Completo – Loja Maçônica

    • Information for Freemasons – UGLE

Outros Repositórios e Recursos

Fontes Diversas

  • bibliot3ca.com

    • O que aconteceu na Maçonaria Brasileira em 1927?

    • A Maçonaria Mista é inevitável?

  • archinform.net – História e arquitetura relacionada à Maçonaria

  • m.youtube.comDiálogos: Maçonaria e Pesquisa