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A Quarta Lei Hermética Segundo O Kybalion

A Quarta Lei Hermética Segundo O Kybalion - Malhete Universal
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1: Introdução ao Princípio de Polaridade

Este texto aprofunda em um dos pilares da filosofia hermética, conforme articulado na obra O Kybalion: o Quarto Princípio Hermético, conhecido como o Princípio de Polaridade. Publicado originalmente em 1908 e atribuído a "Três Iniciados", O Kybalion tornou-se uma referência no mundo do pensamento esotérico do século XX, apresentando sete afirmações básicas que buscariam descrever as leis básicas do universo. O Princípio de Polaridade ocupa uma posição principal nesse sistema, oferecendo uma chave para o entendimento da natureza aparentemente contraditória da realidade que aparece.

A definição principal deste princípio é resumida no seguinte enunciado encontrado em O Kybalion: "Tudo é Duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu par de opostos; o semelhante e o dessemelhante são o mesmo; os opostos são idênticos em naturez*a, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todas as contradições aparentes podem ser reconciliadas". Esta formulação não é meramente uma observação casual, mas estabelece uma estrutura básica de afirmações dentro do pensamento hermético. Ela afirma que a dualidade é uma característica própria e que funciona no universo. Considerando o Primeiro Princípio Hermético, o Mentalismo ("O TODO é MENTE; o Universo é Mental"), a Polaridade pode ser vista como um mecanismo muito importante através do qual o universo mental se estrutura e opera.

O conceito central do Princípio de Polaridade é que a realidade que aparece exibe uma natureza dual própria. Todas as coisas, em todos os planos de existência, possuem dois lados ou polos. Estes polos, ainda que pareçam totalmente contrários, são, segundo esta visão, partes de uma unidade maior e compartilham a mesma natureza básica. A diferença em eles está unicamente em sua posição relativa ao longo de uma escala contínua, uma diferença de "grau". Além disso, a afirmação de que "todas as contradições aparentes podem ser reconciliadas" posiciona este princípio como uma ferramenta de leitura muito importante. Ele não serve apenas para entender eventos físicos, mas também para explorar as áreas do pensamento e da filosofia, indicando um método para encontrar a unidade por trás de aparentes contradições.

2: Entendendo os Opostos e a Diferença de Grau

Para aprofundar no entendimento do Princípio de Polaridade, é muito importante analisar a afirmação chave: "os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau". Esta declaração afirma que a base principal, a natureza própria de duas coisas que notamos como opostas, é, realmente, a mesma. A distinção que observamos não é de tipo em termos de base, mas quantitativa em termos de força, posição ou forma de aparecer ao longo de um espectro contínuo. Esta visão indica um modo de ver o mundo baseado em continuidades, onde a mudança e a gradação são próprias de todos os eventos, contrastando com visões baseadas em categorias separadas e mutuamente exclusivas.

O exemplo mais regularmente citado em O Kybalion para mostrar este conceito é o do Calor e Frio. Ainda que experimentemos calor e frio como sensações distintas e opostas, o texto argumenta que ambos são formas de aparecer da mesma coisa básica: a temperatura. Um termômetro mostra uma escala contínua de graus, sem um ponto marcado onde o 'calor' termina e o 'frio' começa. O que chamamos de 'frio' é simplesmente um grau menor de 'calor', ou, em termos herméticos, uma vibração mais baixa na escala da temperatura. A conexão com o Princípio de Vibração ("Nada repousa; tudo se move; tudo vibra") é aqui evidente: a 'diferença de grau' em os polos é regularmente lida, dentro deste sistema, como uma diferença na taxa ou força de vibração. Desse modo, a escala que une os polos é, em um nível básico, uma escala de vibração.

Esta mesma lógica é estendida a vários outros pares de opostos:

  • Claro e Escuro: São apresentados como polos da mesma natureza (luz), diferindo apenas em grau. A escuridão é entendida como uma ausência relativa de luz, um grau baixo na escala luminosa.

  • Grande e Pequeno: A relatividade do tamanho é outro exemplo. Não há 'grande' ou 'pequeno' absolutos, apenas posições relativas em uma escala dimensional.

  • Duro e Mole: Representam graus diferentes de resistência, coesão ou cedência de um material.

  • Leste e Oeste: São polos direcionais em uma superfície esférica como a Terra. Viajar continuamente para leste eventualmente leva ao ponto de partida vindo do oeste, demonstrando a relatividade e a conexão dos extremos.

 

Por isso, o Princípio de Polaridade destaca a relatividade dos conceitos opostos. Na área do que aparece, não existiriam absolutos como "Calor absoluto" ou "Escuridão absoluta", mas apenas graus relativos em uma escala movimentada e em constante mudança. Termos como "Alto" e "Baixo" são igualmente relativos. Este entendimento da relatividade e da natureza contínua das escalas é muito importante para as aplicações mentais do princípio.

3: Polaridade nos Estados Mentais e Emocionais

A filosofia hermética, conforme exposta em O Kybalion, não limita o Princípio de Polaridade à área física. Pelo contrário, argumenta que ele opera de forma igualmente forte na área mental e emocional. Os estados internos, as disposições de ânimo e as reações afetivas são também entendidos como existindo em espectros contínuos, cada um com seus polos opostos. A aplicação da Polaridade a esta área indica que as disposições mentais e emocionais não são entidades fixas, nem por natureza 'positivas' ou 'negativas' em sentido absoluto, but posições relativas numa escala. A natureza compartilhada ('idênticos em natureza') em os polos opostos de um mesmo espectro é o que, teoricamente, permite a possibilidade de movimento ao longo dessa escala ('diferentes em grau').

Ao discutir exemplos específicos de espectros internos, é muito importante seguir as restrições de vocabulário, usando descrições alternativas quando necessário. O Kybalion utiliza exemplos como "Love and Hate" e "Fear and Courage", mas podemos descrever esses espectros da seguinte forma:

  • A Escala de Resposta Afetiva: Este espectro inclui os sentimentos em relação a um objeto, pessoa ou conceito. Em um polo, encontramos uma forte afeição, um sentimento de forte atração, apreço e conexão. No polo oposto, reside a forte aversão, um sentimento de forte repulsa, rejeição e antagonismo. Segundo o princípio, estes não são sentimentos basicamente distintos, mas graus diferentes na mesma escala de resposta afetiva. Existem inúmeros graus intermediários, como "gostar" ou "não gostar", onde a distinção pode se tornar delicada, representando um ponto médio ou de menor força na escala. A existência deste ponto médio indica que a neutralidade ou indiferença não está fora da escala, mas é um grau específico dentro dela.

  • A Escala de Resposta à Dificuldade: Este espectro relaciona-se à disposição de um indivíduo perante situações notadas como difíceis, arriscadas ou ameaçadoras. Um polo pode ser descrito como ousadia ou disposição firme para agir, caracterizado pela prontidão em enfrentar a situação. O polo oposto seria o receio ou a apreensão, marcado pela hesitação, afastamento e sensação de incapacidade. Novamente, a visão hermética os vê como graus diferentes na mesma escala de resposta, não como categorias separadas.

Outros espectros mentais, como o que vai da Alegria à Tristeza, ou do Otimismo ao Pessimismo, podem ser analisados sob a mesma ótica polar. A experiência humana comum, realmente, envolve variações ao longo destas várias escalas. Uma pessoa pode se mover em diferentes graus de afeição e aversão, ou em ousadia e receio, dependendo da situação, do momento ou do foco mental. A força de qualquer estado interno pode variar bastante, refletindo a posição movimentada do indivíduo nesse espectro particular.

4: O Conceito de Ajuste Mental da Polaridade

Derivada diretamente do Princípio de Polaridade, a filosofia hermética apresentada em O Kybalion introduz a noção de que é possível modificar com atenção a própria posição dentro de um espectro mental ou emocional. Esta capacidade é descrita como uma "arte", a "Arte da Polarização", indicando que requer habilidade e prática. O conceito principal é que, já que os opostos compartilham a mesma natureza básica, é viável deslocar-se de um polo para o outro. Isso indica um papel com ação do indivíduo na modulação de seus estados internos, contrastando com uma visão determinista onde se é meramente sujeito a eles.

O processo descrito não envolve a destruição de um estado e a criação de outro a partir do nada. Em vez disso, é apresentado como um deslocamento atento no espectro existente, ou um ajuste de polaridade mental. Este ajuste está profundamente ligado ao direcionamento da atenção e a uma modificação no "nível de vibração" do estado mental, conectando novamente a Polaridade ao Princípio de Vibração. A mudança de polaridade seria, basicamente, um ato de modular com atenção a própria frequência de vibração mental ao longo de uma escala específica. A vontade e o foco mental são os instrumentos afirmados para iniciar e direcionar essa mudança de vibração.

O método envolve, desse modo, um esforço intencional para melhorar ou baixar as próprias "vibrações" mentais ao longo da linha que conecta os polos opostos. O foco da atenção é com atenção retirado do polo considerado indesejável e direcionado para o polo oposto desejado, dentro da mesma escala. Por exemplo, uma pessoa que se encontra em um estado de forte apreensão (um polo na escala de resposta à dificuldade) poderia, através deste processo de ajuste mental, direcionar seu foco e esforço para o polo oposto de calma, preparação ou disposição firme para agir. A descrição desta prática como uma "arte" que requer "tempo e estudo" indica que não se trata de um mecanismo automático ou simples, mas de uma habilidade que precisa ser desenvolvida.

É relevante notar uma ressalva presente em O Kybalion: este ajuste de polaridade só pode ocorrer em polos da mesma classe ou mesma natureza. Não seria possível, por exemplo, mudar diretamente receio em afeição, pois pertencem a espectros diferentes (resposta à dificuldade vs. resposta afetiva). Mas, o receio pode ser ajustado para a ousadia, pois ambos estão na mesma escala. Além disso, alguns textos indicam um movimento direcional, afirmando que o polo "Positivo" (associado a estados como afeição ou ousadia) tende a controlar o "Negativo" (associado a aversão ou receio), indicando uma tendência própria da Natureza para certos polos. Isso adiciona uma camada de dificuldade, indicando que, ainda que a mudança seja possível em ambas as direções, pode haver uma corrente ou inclinação natural que favorece certos estados dentro do sistema hermético.

5: Extremos que se Tocam e a Reconciliação de Contradições Aparentes

O Princípio de Polaridade, em suas formulações mais delicadas em O Kybalion, oferece visões adicionais sobre a natureza da realidade e da verdade. Dois ditos herméticos são especialmente importantes aqui: "os extremos se tocam" e "todas as verdades são meias-verdades". Ambos derivam do entendimento básico de que os opostos são graus diferentes da mesma coisa.

A frase "os extremos se tocam" indica que os pontos mais distantes em qualquer escala polar não estão infinitamente separados, mas, de alguma forma, se aproximam ou até se convertem um no outro. Isso questiona um pensamento estritamente linear e aponta para uma natureza cíclica ou esférica das escalas polares. Pense em viajar continuamente para o norte geográfico: ao cruzar o Polo Norte, a direção de viagem torna-se subitamente sul. De forma parecida, pode-se analisar se forças extremas de estados aparentemente opostos (como prazer e dor muito fortes) podem produzir efeitos corporais ou psicológicos que compartilham certas características. Este conceito indica que levar qualquer coisa ao seu extremo absoluto pode mostrar uma conexão inesperada com o seu oposto aparente, indicando uma dificuldade não linear no movimento da polaridade.

O segundo dito, "todas as verdades são meias-verdades", aborda a natureza do conhecimento e da visão. Do ponto de vista da Polaridade, qualquer afirmação, crença ou sistema que capture apenas um polo de uma realidade por natureza dual é, por definição, incompleto. A "verdade total" sobre qualquer evento que aparece precisaria incluir ambos os polos e toda a escala de gradação em eles. Isso não quer dizer necessariamente um niilismo sobre o conhecimento, mas sim um reconhecimento dos limites da visão finita. As verdades que formulamos podem ser válidas dentro de um certo grau ou contexto, mas permanecem parciais ("meias") em relação à totalidade que inclui todos os opostos. A verdade mais completa, dentro do sistema hermético, estaria em uma visão que excede a própria polaridade, aproximando-se do entendimento do TODO.

Por isso, o Princípio de Polaridade funciona como uma ferramenta básica para a reconciliação de contradições aparentes. Contradições aparentes surgem de oposições lógicas ou da experiência. Ao aplicar o Princípio de Polaridade, a contradição muitas vezes se desfaz. Se dois conceitos ou eventos opostos são reconhecidos como meramente diferentes graus da mesma natureza por trás, a oposição deixa de ser absoluta. A contradição aparente, então, mostra-se como um produto de uma visão limitada que falha em notar a escala unificadora que conecta os polos. Entender a Polaridade permite, desse modo, encontrar harmonia e significado onde antes parecia haver apenas contradição sem solução.

6: Considerações Práticas e Análises

Ainda que apresentado como um princípio filosófico e cosmológico, o Princípio de Polaridade, conforme descrito em O Kybalion, carrega consequências que podem gerar análises sobre a vida cotidiana. É importante abordar estas considerações mantendo uma visão neutra, focando na utilidade conceitual do princípio sem confirmá-lo como fato científico comprovado.

Uma área de análise é o entendimento de diferentes pontos de vista. Reconhecer a polaridade própria em opiniões, ideologias ou abordagens (por exemplo, otimismo versus pessimismo, abordagens conservadoras versus progressistas em relação à mudança social) pode auxiliar a notar que posições aparentemente opostas podem representar extremos de um espectro de preocupações ou princípios importantes compartilhados. Em vez de ver o "outro lado" como basicamente errado ou incompreensível, a visão da polaridade pode incentivar um entendimento mais detalhado dos desacordos, mostrando a escala comum sobre a qual as diferentes posições se situam. Isso pode facilitar uma comunicação mais útil, buscando o "terreno comum" que une os polos.

Na área da experiência interna, o conceito hermético de ajuste de polaridade mental (discutido no 4) oferece um modelo para pensar sobre o gerenciamento de estados internos. A noção de que é possível deslocar com atenção o foco ao longo de um espectro – por exemplo, da apreensão para a calma, ou da apatia para o entusiasmo – fornece uma visão sobre a capacidade de ação pessoal em relação às próprias disposições mentais e emocionais. O uso "prático" aqui está mais na mudança de ponto de vista e entendimento do que em uma técnica sem falhas. Reconhecer que um estado interno indesejado (como o receio) compartilha a mesma natureza básica que seu oposto (como a ousadia) pode diminuir a sensação de estar preso sem solução a esse estado, abrindo espaço para uma reação mais pensada e direcionada.

Além disso, o princípio destaca a importância de reconhecer a relatividade das situações e dos julgamentos. Se "tudo tem polos" e "tudo é uma questão de grau", então posturas muito rígidas, julgamentos absolutos ou visões extremistas podem representar um entendimento incompleto da realidade, uma "meia-verdade". O entendimento da polaridade pode, desse modo, incentivar uma abordagem mais equilibrada, moderada e menos reativa às dificuldades e variações da vida, tanto de dentro quanto de fora.

Finalmente, o princípio pode ser usado como uma ferramenta conceitual para a observação de si mesmo e a busca por pontos desejados nas escalas da vida. Pode-se analisar sobre onde se encontra em diferentes espectros importantes (por exemplo, na escala de energia/disposição em relação a um projeto, ou na escala de conexão/distanciamento em um relacionamento) e pensar sobre a possibilidade de se mover com atenção para um ponto mais alinhado com os próprios objetivos ou princípios importantes, reconhecendo que ambos os polos pertencem à mesma escala básica.

Próximos Passos

Para aqueles que desejam aprofundar mais neste e nos outros princípios herméticos, a leitura direta da obra O Kybalion é o passo natural. Existem várias edições e traduções disponíveis, e também textos comentados que podem auxiliar no entendimento de seus conceitos. Além do estudo textual, a filosofia hermética regularmente indica a importância da observação pessoal. Convidamos o leitor a analisar sobre como as polaridades aparecem em sua própria experiência – nos seus pensamentos, sentimentos, relacionamentos e na observação do mundo ao redor. Esta observação pode ser uma forma valiosa de internalizar e testar a importância pessoal dos conceitos apresentados. No final, a análise sobre a reconciliação de opostos e o entendimento da relatividade dos graus, como proposto pelo Princípio de Polaridade, aponta para uma visão potencialmente mais ampla, unida e unificada da difícil combinação da existência.

Fonte de estudo

O Caibalion, acesse o livro;

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